Íntimo e pessoal....

Olá pessoal....não tenho escrito muito, pois só consigo fazê-lo quando a pequena dorme. Só que quando ela dorme aproveito para tomar banho, tingir o cabelo, me depilar etc....aí eu fico sem inspiração!
Dessa vez não vou falar da Mari, mas sim de mim.
As coisas estão muito complicadas e difíceis.
Quem me conhece sabe que sempre fui uma pessoa completamente independente e individualista. Nunca fui de ter amigos grudados, de ligar todo dia, de ir na casa....sempre mantive a minha privacidade. Até mesmo nas conversas. Eu sempre falo muita besteira, tiro muito sarro de tudo, mas nunca falo dos meus sentimentos, frustrações etc.
Posso dizer que sempre gostei mais de estar na minha e fazer o que quisesse na hora que quisesse.
Chegava em casa, tirava os sapatos, deitava no sofá com o Alê, assistíamos vários filmes. Ía dormir a hora que dava sono, comia quando dava fome!
Bom, essa é minha essência.
Aí veio a Mariana. As coisas com criança já mudam muito. A vida dá uma reviravolta. Mas ainda assim eu conseguia manter minha vida e minha individualidade. Trabalhava, almoçava em lugares legais, com pessoas que eu queria. Ía ao cabeleireiro, fazia as unhas. Às vezes deixava ela na minha mãe e saía com o Alê.
Depois que tudo aconteceu, minha vida mudou completamente! Faz onze meses que não saio de casa a não ser para ir ao hospital! Nem com minha mãe ela fica pra que eu possa ir cortar o cabelo! Nada! Não posso nem mudar de cômodo na casa, ela grita, chora, berra. Tomar banho virou uma luta ( só qdo ela dorme mesmo!) ! Ir ao banheiro, uma guerra! Ela fica grudada em mim o dia todo! Está com ansiedade de separação e pânico social. Quer fazer xixi de dois em dois minutos, nem tem xixi, mas ela quer ir e é só comigo! Chora muito, me demanda demais! No começo eu estava levando na boa, mas nos últimos dias isso tudo começou a pesar, eu comecei a pirar, essa história estava acabando comigo. Eu já não estava aguentando mais! E toda aquela força, toda aquela garra que todos me elogiavam foi por água abaixo. Pirei! De verdade! Tive até medo de fazer besteira, só chorava, meu corpo formigava o tempo todo! Tive uma crise em casa, vomitei muito, minhas mãos ficaram enrijecidas, falta de ar, ansiedade... achei que fosse morrer! Passou. Depois tive outra crise enquanto estávamos internadas no hospital, uma loucura ....passou, mas continuei com a ansiedade, o formigamento no corpo, o stress, o nervoso e a tristeza.
Aí, uma noite dessas tive um sonho, sonho não, foi meio que uma sensação, sei lá. Eu estava dormindo e "senti" uma conversa com alguém que me dizia que "minha missão nessa vida é servir a Mariana", mas deixava bem claro que não era apenas cuidar e dar apoio, mas que eu tinha que viver por ela, serví-la mesmo!
Isso vai contra tudo que sempre fui, vai contra minha essência! O que fazer? Procurei um psiquiatra.
Ele me diagnosticou com síndrome do pânico e depressão. Me passou umas tarjinhas pretas e estamos aguardando melhora.
O que quero dizer aqui é que vou fazer tudo o que for preciso para me conscientizar e concretizar minha "missão" nessa vida! Não está sendo e nem vai ser nada fácil, pois eu nasci pra ser livre, mas pela minha filha  eu vou mudar, pois meu amor por ela é maior que minhas convicções de vida!
Já comecei a me adaptar a minha nova realidade e ser feliz assim ! Com ela junto comigo claro, em nome de Jesus!

Milagre...

No intervalo entre a segunda e a terceira quimioterapia, a médica pediu uma ressonância de controle, para verificar como o tumor estava respondendo às drogas.
Outra surpresa: para se defender de tanta manipulação, o cérebro criou uma membrana (semelhante àquela da gema de ovo) em um dos ventrículos, justamente aonde se localiza a válvula de derivação que foi implantada para "drenar" o excesso de líquor e diminuir a pressão intracraniana. Resultado, essa membrana entupiu o ventrículo e criou uma "represa" de líquor...
Solução? Outra cirurgia urgente para retirar essa película e voltar a circulação normal do líquido....
Mais uma vez ficamos abatidos. Pôxa, que injustiça! Dr. Félix explicou que isso pode ocorrer e que a cirurgia seria simples. Mas tinha o risco, claro!
Havia duas formas de entrada até o ventrículo, ou pela abertura já feita e seguindo a válvula, ou uma nova abertura mais próxima do local. Decisão que seria tomada na hora da operação.
Bom, vamos lá....
Centro Cirúrgico novamente, choro, tristeza e angústia....
Anestesia geral....mesa de cirurgia.
A previsão era de seis à sete horas de espera.
Uma hora depois de tê-la deixado, toca o telefone do quarto. Uma enfermeira da cirurgia dizendo que era pra descermos, pois já tinha acabado. Não falou mais nada! Gelei! Algo tinha dado errado?
Descemos correndo ( tinha muita gente! Minha família e novamente as amigas). Esperamos e nada....
Toca meu celular. O Dr Félix. Estava no quarto ! Subimos correndo de novo!
Ele estava no sétimo andar com as enfermeiras e o Dr. Erasmo. Todos com cara de "UÉ?".
Vem a explicação: ao fazer a ressonância para definir a técnica de entrada, SURPRESA: a membrana se rompeu SOZINHA e não havia mais nenhum líquor represado!
Palavras do neurocirurgião ( aquele alemãozão, loiro, alto e sério!): "Só pode ser milagre, pq eu não consigo explicar isso!"
O hospital veio abaixo de felicidade. Todo mudo chorando , rindo, se abraçando, gritando! A maior emoção!
Ela acordou da anestesia, mal humorada, brava, sem sequer sonhar que Deus agiu mais uma vez em sua vida...minha pequena de novo sendo abençoada.
Neste dia, tivemos mais uma prova de que a Mariana é a menina dos olhos de Deus!